Umberto Eco (foto) continua coberto de razão: a rede mundial deu sim voz a uma multidão de imbecis. Mas Pollyana - cujo otimismo inabalável é visto hoje como positividade tóxica - faria um contraponto ao pessimismo do escritor e pesquisador italiano dizendo que as coisas boas do mundo virtual superam qualquer malefício que possam causar.
Nessa discussão entre ilustres, cito humildemente Deilon, meu instrutor da auto escola. Na primeira aula de direção, na tentativa de diminuir meu pavor com o carro, ele soltou esse bálsamo vernacular: o automóvel não faz nada sozinho; é o motorista que comanda a máquina.
A frase é do tempo da internet 1.0, mas Deilon também continua coberto de razão. Imbecis e gênios é que são responsáveis por aquilo que fazem com um automóvel, uma bicicleta, um smartphone ou um computador. A culpa não é da máquina (nem da internet), mas de quem a usa.
Recentemente vi na TV uma série de famosos (e cosplays também) reclamando dos ataques que sofrem nas mídias sociais. A angústia generalizada por não saber o motivo de tanto ódio é a queixa maior de influencers, artistas e afins -e a até mesmo de gente não tem nem um pau pra espantar um cururu na Frei Serafim ao meio dia. A matéria exibida no programa de televisão mostrava uma hater orgulhosa de destilar ódio nos perfis de gente importante e conhecida pelo simples prazer de fazê-lo. Tenso, né?1
Odiar as pessoas por prazer é caso para (muita) terapia, medicação e oração, mas há quem defenda cientificamente que ricos e famosos são alvo de nossa inveja incubada. Quem nunca comemorou quando um artista alvo de nosso "ranço" se estrepou bonito? Se você nunca pelo menos pensou nisso, atingiu a Iluminação...
Até os anos 2000 nossos ódios ficavam restritos basicamente ao pequeno grupo de pessoas que nos aturam por amizade ou caridade. A internet, principalmente depois de se tornar participativa, expandiu o alcance das críticas em escala mundial literalmente.
A roupa suja que a gente lavava na praça do bairro hoje chega ao Japão em questão de segundos. As mídias sociais são apenas mais um lugar de convivência onde replicamos o que somos off-line. Se sou recalcado, minha versão online assim também será. Se tenho inveja da vida alheia, imagine na internet onde todo mundo tem barriga negativa, thigh gap, vive de bar em bar e mora nas Maldivas...
E aqui vai uma reflexão do imbecil que escreve garatujas nesse blog: gente bem resolvida, boa da cabeça, tem autoestima elevada (sem arrogância, claro), tá sempre cuidando do seu lavado, entende que a internet é um grande balcão em que influencers, artistas e pessoas públicas tentam vender de tudo - principalmente eles mesmos - não vomita nas postagens de ninguém. O remédio para lidar com a loucura digital na internet está também na própria Rede: o block! Bloquear doido digital é vida...
Genial, meu caro. Belo texto, vela reflexão.
Adorei o texto!